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Sociolinguistica_L8B8
Mas essa é uma história de crioulização muito especial. É comum que uma língua crioula, como já vimos, nasça a partir de uma língua pidgin, que é usada como língua franca numa comunidade sem nenhuma língua dominante. No caso dos surdos nas escolas especiais da Nicarágua, qual foi a língua pidgin que deu origem à língua de sinais que é usada hoje?
Os teóricos que estudaram a emergência da língua de sinais nicaragüense acreditam que os elementos lingüísticos que foram incorporados à língua de sinais nicaragüense vieram dos sistemas de "sinais caseiros" que cada surdo trouxe de casa para as escolas. Uma criança surda, isolada dentro de uma família de ouvintes, acaba estabelecendo alguns sinais que servem para a comunicação básica.
Para os ouvintes da família, esses sinais são apenas gestos icônicos, e nunca adquirem o estatuto de língua. Mas para as crianças surdas, os sinais caseiros são o começo de uma comunicação simbólica. Quando as crianças surdas têm oportunidade de usar esses gestos na comunicação com outros surdos, eles sofrem elaborações que acabam resultando em uma língua natural, da mesma forma que uma língua crioula nasce de uma língua pidgin.
Mas, para que isso aconteça, é importante que exista uma comunidade, composta por crianças, jovens e adultos que se comunicam entre si. Enquanto só há algumas poucas crianças surdas convivendo poucos anos numa escola, e depois voltando ao isolamento das suas famílias e comunidades ouvintes, não há condições para a língua se consolidar.
Na Nicarágua, os surdos adultos que formaram a Associação falavam uma língua de sinais menos gramatical e mais variada. Era uma língua mais parecida com um pidgin. Mas a comunicação dos surdos mais velhos com os surdos jovens ajudou os jovens a crioulizar a fala dos mais velhos, isto é, a gramaticalizar a língua, e a torná-la mais uniforme e expressiva.