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Sociolinguistica_L8B8






2.6 A crioulização de línguas de sinais

Muitas vezes na história das comunidades surdas acontece que escolas especiais servem como núcleo de convivência entre surdos. Essa convivência estimula a aquisição de língua de sinais pelas crianças surdas, e a formação de associações de surdos nas cidades onde os surdos se concentram por causa das escolas. Isso aconteceu no Rio, começando em 1857, com a fundação do Imperial Instituto de Surdos e Mudos (hoje INES). Isso trouxe surdos de outras partes do Brasil para o Rio, muitos dos quais acabaram ficando por lá e consolidando uma comunidade. Não temos informações sobre o que existia de comunidade surda e de comunicação entre surdos antes da fundação do Instituto, mas sabemos que vinte anos depois, os surdos já usavam uma língua de sinais muito influenciada pela língua de sinais francesa. O fundador do Instituto, E. Huet, era surdo francês, vindo do Instituto de Surdos-Mudos de Paris, e certamente introduziu a língua de sinais francesa por meio da sua comunicação com os alunos e professores, apesar de não ter incluído língua de sinais como parte do currículo. Até o oralismo puro chegar oficialmente ao INES, em 1911, a língua de sinais brasileira já estava sendo usada pela comunidade surda, e ela continuaria a ser usada informalmente dentro e fora da escola.
O caso do nascimento da língua de sinais nicaragüense é bem diferente. Na Nicarágua, a primeira escola especial, que aceitava surdos entre os alunos, foi fundada em 1946. Até 1979, já havia sete escolas especiais na Nicarágua, servindo por volta de 100 surdos em locais diferentes. Ao assumir o poder em 1979, o governo sandinista formulou uma política de educação especial e, a partir de 1980, aumentou o número de escolas especiais para 20. Uma associação de surdos só veio a ser fundada em 1986.
A grande diferença entre a experiência nicaragüense e a experiência brasileira é que as escolas nicaragüenses foram estabelecidas na era oralista, sem o envolvimento de nenhum educador surdo, e sem a introdução, mesmo informal, de uma língua de sinais de uma comunidade surda. Isso dificultou a comunicação entre os alunos surdos e retardou a formação de uma comunidade de surdos jovens e adultos.
Mas hoje existe uma língua de sinais nicaragüense. Como é que isso aconteceu, sem essa língua ter sido trazida de algum outro lugar? Acredita-se que a língua de sinais nicaragüense foi o resultado de um processo de crioulização.