Cada falante, diante de um mesmo evento, pode expressar esse evento de maneiras diferentes. Os vários constituintes de uma sentença podem ser colocados em diferentes posições na sentença para expressar diferentes efeitos discursivos. Em várias posições, sim, mas não em todas ou em qualquer posição. Consideremos, primeiro, a ordem linear dos constituintes. Uma sentença é bem formada no português quando a estrutura hierárquica de seus constituintes obedece a algumas restrições. Vejamos as seguintes sentenças em (92):
(92) a. A Maria comprou um bolo de chocolate para a festa de sábado b.? Comprou a Maria um bolo de chocolate para a festa de sábado c. ? A Maria um bolo de chocolate comprou para a festa de sábado d. Para a festa de sábado a Maria comprou um bolo de chocolate
Os exemplos em (92) apresentam alguns constituintes que se organizam na sentença de forma variável. São eles, o sujeito, o verbo, o objeto direto e um adjunto adverbial. Sem pôr nenhum dos constituintes que se relacionam com o verbo comprar (Maria, o bolo de chocolate) em evidência, podemos dizer que apenas (92a) e (92e) são construções boas no português do Brasil. Em (92a), o sujeito (a Maria) antecede o verbo (comer) e o verbo antecede o objeto (o bolo de chocolate). Essa parece ser de fato a construção transitiva canônica do português, na ordem SVO. No caso dos exemplos (92b) e (92c) não são sentenças bem aceitas no português (ou pelo menos não muito comuns). Já a sentença (92e) é boa, pois o elemento deslocado é um termo adjunto, e não argumental.