Em linhas gerais, estamos diante de um vocábulo que nomeia uma determinada substância, cujas propriedades nos conduzem a classificá-lo como um nome na gramática do português. Observe que essa classificação é depreendida somente a partir das propriedades morfológicas, distribucionais (ou sintáticas) e semânticas que tal item estabelece na relação com os demais vocábulos numa determinada estrutura. Essas propriedades, como já destacamos, fazem parte da gramática da língua adquirida. Veja resumo que foi discutido até aqui na unidade 3. Agora, observe os exemplos a seguir.
(24)A Maria colocou o livro sobre a mesa [em cima; abaixo; sobre a] (25) *A Maria colocou o livro mesa
Num primeiro momento é bastante tranqüilo reconhecer o verbo colocou, tendo em vista a relação que este item estabelece com os demais itens da estrutura (colocar [Maria; o livro; a mesa]) em (24). Reconhecemos ainda que os itens relacionados ao verbo são substâncias e, por tal motivo, os reconhecemos como nomes (substantivos) nas sentenças (24) e (25). Nesse contexto, o que você diria acerca do item lexical sobre na sentença (24)? Observe a sentença (25) em que o item sobre não está presente. Podemos constatar que o que garante a realização do vocábulo mesa na sentença (24) é a preposição sobre [em cima; abaixo; sobre a]. Nesse caso, é a preposição que seleciona o item mesa. Observe na sentença (26), a seguir, que o item lexical sobre possui algumas restrições de seleção. Ele não pode selecionar um item como amor, por exemplo, como evidencia a estrutura a seguir.
? O ponto de interrogação “?” indica que a estrutura parece não ser uma sentença bem formada nessa língua; no caso apresentado em (18), por questões relacionadas com a ordem dos constituintes.
Veja resumo que foi discutido até aqui na unidade 3 Vimos até aqui, com exemplos do português, as propriedades de duas (grandes) classes de vocábulos que constituem as diversas línguas naturais: os nomes e os verbos. É importante observar que os nomes estão sempre associados a substâncias enquanto os verbos a relações. Como vimos nos exemplos (17) a (19), reconhecemos em fedruxar uma relação entre os constituintes de uma determinada sentença e que é através desta relação que caracterizamos (e classificamos) este item lexical como um verbo. Já nos exemplos (20) a (23), mesmo não reconhecendo o vocábulo apalaia como um item lexical do português, atribuímos a ele uma substância que o caracteriza (ou classifica) como um nome.