A partir dessa informação, o índio pode se fazer as seguintes perguntas: se o serviço do João é pequeno, por que é que ele está tão cansado?; se gorjeta pode ser uma bebida, será que o João queria estar bêbado?; quem é que deveria ter dado mais gorjeta ao João? o seu patrão? afinal, o patrão deve ao João o salário no fim do mês, e se gorjeta é algo que se dá a alguém além do devido, talvez o patrão não tenha dado gorjeta para o garçom; será que o João não recebeu mais gorjetas porque o serviço dele não é satisfatório? Enquanto que, para nós, que temos o frame de restaurante, o comentário que João faz sobre as gorjetas é claro, para o índio, que não tem o frame de restaurante, mesmo com a ajuda de um dicionário, o significado de ‘gorjeta’ não é fácil de entender. Vamos voltar ao exemplo de ‘solteirão’ já discutido na Unidade 3. Como vimos, a decomposição desse conceito em traços semânticos é insuficiente para que entendamos o significado dessa palavra do português. Se formos ao dicionário, também não vamos ter um entendimento completo do conceito, na medida em que a definição que vamos encontrar é a seguinte: Com essa definição, vamos continuar sem saber se podemos ou não considerar, como solteirões, o Papa e o homem de 40 anos cuja namorada mora em outra casa (sobre quem falamos na Unidade 3). O que acontece é que, para entender o conceito de ‘solteirão’, precisamos ter um frame de casamento que envolve a idade prototípica para um homem se casar. Precisamos também ter um frame do comportamento sexual de um homem desimpedido. Para entender por que o Papa não pode ser considerado um solteirão, precisamos ter um frame da Igreja Católica que nos informa que seu clero não pode se casar. Por isso é que dizemos que as expressões lingüísticas só podem ser entendidas com relação a frames.