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Semântica e Pragmática
Será que existem, na língua, afirmações puramente constativas, ou seja, afirmações que apenas descrevem uma determinada situação ou evento? Será que existe algum contexto em que, se dissermos uma sentença como (57), vamos estar simplesmente fazendo uma constatação, sem que estejamos, ao mesmo tempo, realizando uma ação? É possível que sim, mas esses vão ser contextos muito limitados. Um que nos ocorre é aquele em que fazemos a descrição de uma sala que estamos observando como mostra o exemplo .
Fora esse, em todos os demais contextos, mesmo os mais banais, uma afirmação como essa vai realizar uma ação. Considere uma situação em que você entra em sua sala e se surpreende ao ver lá uma pessoa que você não conhece Veja o exemplo o que essa pessoa diz.
Será que, nesse caso, temos uma mera constatação? Não! A pessoa está oferecendo uma justificativa para ter entrado na sala. Portanto, ela está realizando uma ação.
Austin, então, tem razão quando diz que o estudo do significado das expressões lingüísticas não pode se limitar à parte propriamente semântica da significação, devendo incluir sempre a parte ilocucionária dos enunciados. Tomando por base os exemplos que acabamos de estudar, podemos, pelo menos, ver que, tecnicamente, existe a possibilidade de separação dos dois tipos de significados. Mas Austin mostrou que existe um tipo de enunciado que não tem uma parte constativa, ou seja, que não faz uma descrição de uma situação ou de um evento. Ele é a própria realização de uma ação. Esse tipo de enunciado é chamado performativo Observem os exemplos .
O que se verifica nessas sentenças é que os atos de lamentar, de jurar, de prometer, de declarar, de apostar se realizam especificamente quando a afirmação é enunciada. Ou seja, nessas sentenças, não estamos descrevendo lamentos, juramentos, promessas, declarações, apostas. Nós estamos, justamente, realizando esses atos por meio da enunciação dessas sentenças.