No primeiro enunciado de Pedro, a expressão aqui faz referência ao lugar em que o Pedro está, ou seja, a cidade de Curitiba. Isso porque o Pedro é a pessoa que está falando, e aqui é o advérbio relativo ao lugar da pessoa que fala. Por outro lado, a expressão aí faz referência a São Paulo, que é a cidade em que está a Ana. Isso porque a Ana é a interlocutora de Pedro (é a pessoa com quem ele está falando) e aí é o advérbio que designa o local em que está o interlocutor de uma enunciação. Entretanto, quando Ana usa a expressão aqui, será que ela está se referindo a Curitiba? Não, ela está se referindo a São Paulo, porque ela, que é a pessoa que está falando desta vez, está em São Paulo. Vejam, então, que, apesar de aqui significar o lugar em que está a pessoa que fala, a cada enunciação sua referência vai variar. Vejam, também, que, quando Ana faz referência ao litoral, ela usa o advérbio lá. Por que? Porque nem a Ana (que é a pessoa que fala), nem o Pedro (que é seu interlocutor) estão no litoral, e lá é justamente o advérbio que usamos para fazer referência a um local distante do local em que estão a pessoa que fala e seu interlocutor. Observem, agora, o exemplo da continuação da conversa telefônica entre Pedro e Ana. Nessa parte da conversa, temos exemplos de verbos dêiticos. Pedro usa os verbos vir e trazer. O que significam esses verbos? Vir significa "realizar um deslocamento até o lugar em que está a pessoa que fala". Trazer significa "transportar algo para o lugar em que está a pessoa que fala". Por isso, quando Pedro usa esses verbos, eles adquirem o significado específico de deslocamento e transporte para Curitiba, e não para outro lugar. Se Pedro estivesse em Belo Horizonte, as ações expressas pelos verbos vir e trazer teriam como ponto final a cidade de Belo Horizonte, e não mais Curitiba.
(4) O Pedro diz para a Ana: --Aqui tá muito frio. Como tá o tempo aí? A Ana responde: --Aqui tá frio também. Mas ontem eu fui pra o litoral, e lá tava bem quente.