Vejam que várias expressões lingüísticas dependem de nosso conhecimento enciclopédico para ter seus significados completamente definidos. Nós vimos anteriormente que, pela visão de decomposição lexical, o termo 'menina' pode ser caracterizado pelos traços [+humano, -masculino, -adulto]. Agora, considerem uma sentença como 'O João vai se casar com uma menina muito legal'. Será que o João vai ser casar com uma criança? Claro que não! Ninguém pensa isso. Todo o mundo sabe que podemos usar o termo 'menina' para fazer referência a uma mulher adulta, em alguns contextos particulares. Portanto, não podemos ficar limitados a um conjunto de traços para determinar o conceito associado a uma expressão lingüística. Precisamos de um conhecimento mais vasto, que é o nosso conhecimento enciclopédico. Com isso, não estamos querendo dizer que seja errado estudar o significado de uma palavra equiparando as propriedades de seu referente a traços semânticos. Como já visto na Unidade 2, os conceitos — ou as categorias que a eles estão associados — podem, sim, ser concebidos inicialmente como um feixe de traços, ou um conjunto de atributos. Entretanto, primeiramente, esses traços não podem ser entendidos como condições necessárias e suficientes para a caracterização de absolutamente todos os membros de uma categoria. Em geral, eles servem apenas para caracterizar os protótipos de uma determinada categoria, e não todos os seus membros. Segundo, como acabamos de ver, esses atributos são apenas uma parte de um conceito. Eles não podem ser considerados como o conceito completo de um certo item lexical, na medida em que nosso conhecimento de mundo, e o contexto de uso do item lexical contribuem substancialmente para a determinação de seu significado. Na Unidade 5, vamos ver em mais detalhes o que é essa visão enciclopédica ou esse conhecimento de mundo.