Se a tradição gramatical diz que a derivação cria palavras novas, mesmo sem saber bem o que é uma palavra "nova" aqui, talvez possamos eleger a seguinte pergunta para servir de guia para esta investigação: por que criamos palavras novas? Vamos voltar no nosso exemplo. Inventamos um nome para uma coisa: macomelo. Talvez essa seja uma das maiores razões para criarmos uma palavra: nomear seres inexistentes anteriormente. Ótimo, já demos um nome para a máquina, então já podemos falar dela. A classe natural para esta palavra é a dos substantivos (que abriga os nomes dos seres, segundo a gramática tradicional), mas no pedido que eu fiz à minha irmã, eu precisava de um verbo, que devia entrar ali na forma infinitiva, do mesmo modo que na frase: "Você pode lavar a salada?". Chegamos assim a uma segunda razão para criarmos palavras: a mudança da classe gramatical. Mas há ainda uma outra razão. Por exemplo, vamos supor que a tal máquina que eu inventei é muito delicada, exige conhecimentos especiais para ser operada e só a minha irmã tem a formação necessária para isso e, portanto, só ela está autorizada a mexer na máquina. Assim, a minha irmã é a macomeladora oficial da família. Se o meu pai ou o meu avô também quiserem aprender a mexer na máquina, a minha irmã vai ensinar e eles também serão macomeladores, correto? Ora, macomelador/a/(e)s é, como macomelo, um substantivo: aceita flexão de gênero e número e pode ser precedido por artigo. Portanto, a diferença entre macomelo e macomelador não é de classe de palavra, mas há uma diferença semântica aí: macomelo é o nome da máquina, macomelador é o nome do profissional que põe em funcionamento a máquina. Então, apesar de serem ambas substantivos, elas têm interpretações muito diferentes, certo? Assim, uma terceira razão para criarmos palavras pode atribuir-se a necessidades semânticas desse tipo.