Há casos, porém, em que é menos claro por que uma certa regra não se aplica, já que a base aparentemente respeita todas as exigências da regra. Vejamos dois diferentes tipos de impossibilidades: o primeiro caso aparece em *fabricador. Aqui, podemos alegar a existência de uma regra concorrente, que talvez nem seja uma RFP em português, apenas uma RAE, mas que de qualquer modo já formou o substantivo agentivo que se relaciona com o verbo fabricar, que é fabricante. Como as línguas evitam sinonímia completa, não é possível usar uma regra produtiva para gerar uma palavra que teria significado igual ao de outra palavra já existente (quando temos as duas palavras, em geral elas significam coisas diferentes, como amante e amador). Mas pode existir também uma regra concorrente produtiva: a regra produtiva concorrente de -eiro em português, que é -ista, explica por que não temos *surfeiro: já temos surfista! O outro tipo de impossibilidade aparece em (?)apelidador (que seria aquela pessoa que põe apelido em todo mundo, exemplo de Rocha, 1999:21). Este caso é o mais delicado, porque não há nenhuma razão aparente para não termos (?)apelidador ou outras tantas formas na língua. Rocha (1999:44) fala em inércia morfológica: as pessoas não usam estas formações simplesmente porque elas ainda não foram criadas, mas nada impede que elas sejam acionadas e passem a fazer parte do conjunto de palavras da língua. Esta noção de inércia morfológica, no entanto, não é mais do que uma descrição do que ocorre. É preciso ainda bastante pesquisa nesta área da morfologia para construirmos uma verdadeira explicação para este fenômeno.