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Morfologia
Finalmente, tomemos verbos quaisquer do português para observar uma coisa muito interessante: escrever, repor, anotar, ler, colocar, pôr, abrir, fechar, sair, vender, compor. Olhe bem: todos eles terminam em -r, que é a marca do infinitivo do verbo. Mas antes do -r só podem aparecer três vogais: -a-, -e- ou -i-, o que também vemos em (26c); -o só aparece no caso de pôr e seus derivados (compor, repor) e -u- não aparece jamais, certo? Às vogais -a-, -e- e -i- damos o nome de vogais temáticas. Como no caso dos nomes, ela não veiculam qualquer informação extra-lingüística específica, mas elas determinam a divisão dos verbos em conjugações. Elas não seriam desinências se as conjugações não diferissem entre si morfologicamente. Porém (28) mostra que há pelo menos uma diferença importante entre elas, quando os verbos estão conjugados no pretérito imperfeito do modo indicativo.
O que (28) nos mostra é que o morfema que expressa "pretérito imperfeito do indicativo" é um se o verbo pertence à 1a conjugação mas é outro nas outras duas: o morfema utilizado é -va- no primeiro caso e -ia- no segundo. Portanto, as vogais temáticas são parte importante da morfologia verbal, o que nos leva a identificar na forma cantávamos mais uma divisão de morfemas: cant-a-va-mos. E fazendo isso chegamos ao último morfema que está presente também em qualquer forma verbal: o morfema lexical do verbo, seu radical, responsável pela significação específica que o verbo expressa: cant-, vend- e abr- em (26c).