Vejamos agora o que dizem os critérios quanto à morfologia de gênero no português.
1. A regularidade do processo: para Camara Jr. (1970), um processo poder se aplicar a todas as palavras de uma certa classe é indício de que estamos frente à flexão; caso contrário, trata-se de derivação. Como se comporta o gênero com respeito a esta propriedade? O gênero em português expressa uma oposição entre masculino e feminino que se relaciona apenas longinquamente ao sexo biológico. A relação é longínqua por várias razões. Em primeiro lugar, porque todos os substantivos do português têm um gênero mas nem todos os seres existentes no mundo, designados pelos substantivos da língua, têm sexo: mesa tem gênero feminino – e nós sabemos disso porque todos os termos determinantes (artigo, adjetivo, ...) que compõem o seu grupo nominal devem necessariamente aparecer no feminino (uma mesa bonita); mas seria muito imaginativo dizer que as mesas são do sexo feminino! Além do mais, se houvesse qualquer conexão necessária entre gênero da palavra e sexo do referente, não seria esperado encontrar variação nas línguas quanto ao gênero, já que em princípio o sexo seria o mesmo: mesa é uma palavra feminina em português, mas tavolo é uma palavra masculina em italiano, e não há razão para supor que as mesas são diferentes aqui e na Itália!