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Morfologia
Em cada um desses pares, o que vemos é que em uma palavra existe uma marca visível (que é o -s) e na outra palavra não existe nada, mas o fato mesmo de não ter nada na outra nos faz interpretar essa outra palavra de uma certa maneira: se a forma com a marca -s tem a interpretação de plural, a forma não-marcada tem a interpretação da propriedade complementar ao plural, que é o singular. Ou, dizendo ainda de outro modo, a ausência de marca é significativa aqui: ela significa singular! O que estamos dizendo é que sabemos que menino é singular porque se fosse plural teria -s no final. Sempre que estivermos frente a uma oposição dessa natureza, vamos dizer que o lugar onde não vemos nenhum morfema (o singular, no nosso caso) está ocupado por um morfema, que é um morfema como -s mas não tem forma fonética nenhuma.
Portanto, a expressão morfológica de número desencadeia concordância e também dispõe de um paradigma, bastante simples, é verdade, mas que opõe uma forma a uma forma -s. Fechando a discussão desta seção, podemos concluir que a expressão morfológica de número nos nominais é um mecanismo flexional no português, pois é regular, é obrigatória, dispõe de um paradigma (ainda que modesto) e desencadeia concordância dentro do sintagma nominal (e mesmo fora dele em alguns casos), ao menos no português padrão.