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Morfologia






4.3 A suposta flexão de grau

Vamos agora analisar a suposta flexão de grau que, segundo a GT, é exclusiva dos adjetivos no português. O processo em discussão é aquele que permite a expressão, por meio de um sufixo, do alto grau da qualidade que o adjetivo veicula. Os exemplos são do tipo tristíssimo (triste em alto grau), facílimo (fácil em alto grau) ou paupérrimo (pobre em alto grau). A estas formas, a gramática tradicional dá o pomposo nome de "superlativo absoluto sintético". Aplicaremos nossos critérios a elas para saber se estamos de fato frente à flexão.

1. A regularidade do processo: não há dúvida de que a formação do superlativo absoluto sintético é bastante regular: praticamente qualquer adjetivo cuja semântica permite variação de intensidade admite aparecer nesta forma, mesmo que para isso precise tomar alomorfes estranhos, como em paupérrimo. Existem certas exceções, é verdade, como *bonitíssimo, uma impossibilidade sem razão aparente, mas é razoável afirmar que a formação é fundamentalmente possível para todos os adjetivos.

2. A obrigatoriedade do processo: parece indiscutível que, em português, o uso de um processo morfológico para expressar o alto grau de uma qualidade é completamente opcional, pois todo o sistema de comparação, no qual o alto grau está inserido, é um processo sintático em português, não um processo morfológico, como veremos a seguir.
Para Camara Jr. (1970:83), analisar o grau como flexão é fruto da "transposição pouco inteligente de um aspecto da gramática latina para a nossa gramática". Para entender o que isso quer dizer, é preciso saber um pouquinho de latim, a língua-mãe do português.