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Morfologia
2. A obrigatoriedade do processo: vamos começar esta discussão com dados estatísticos: segundo uma pesquisa reportada em Rocha (1999:196), 95,5% dos substantivos no corpus examinado fazem referência a seres não sexuados e, dos 4,5% restantes, nem todas as palavras se flexionam em gênero – são palavras como criança, homem e jacaré.
Assim, só podemos falar de obrigatoriedade da flexão de gênero nesses 4,5%, porque para os outros 95,5% a questão não se coloca – o processo morfológico para eles não é possível (ou não faz o menor sentido: o que seria o meso?). E a questão é que nem para os 4,5% a flexão é obrigatória, pois muitos nomes não têm a flexão de gênero, ainda que aqui faça sentido: seria perfeitamente possível termos o par jacaré/*jacaroa, não é verdade?
Um ponto importante para notar é que, para os itens lexicais que aceitam o processo flexional, ele é definitivamente obrigatório: ninguém pode falar o meu gato fêmea, a não ser que queira ofender o bichinho, você concorda? Como o processo de flexão morfológica é possível neste caso, não há opção: somos obrigados a dizer a gata.
Além disso, exatamente como no caso da expressão de número , qualquer substantivo da língua deve ser ou do gênero masculino ou do gênero feminino (do mesmo modo que deve ser ou singular ou plural). Portanto, mesmo se o processo morfológico de transformar um gênero no outro não é generalizado na língua, a expressão de algum gênero no substantivo é!
Será que essas observações são suficientes para decidirmos considerar o gênero um processo flexional pelo critério da obrigatoriedade? Por agora vamos deixar essa pergunta sem resposta; mais tarde voltaremos a ela.