Voltemos ao problema da realização da nasalidade antes de p e b. O que está em jogo aqui não é a alternância na vibração das cordas vocais como na produção de /s/ ou /z/ finais, mas uma mudança no lugar em que as consoantes são articuladas: se você pudesse observar dentro da boca de um falante de português pronunciando os conjuntos de palavras ou pseudo-palavras (as que estão entre aspas) em (24), veria que a consoante inicial dentro de cada um dos conjuntos – (a), (b) e (c) – é produzida no mesmo lugar da boca, mas há variação do lugar entre os conjuntos – isto é, quando comparamos (a) com (b) por exemplo Portanto, o que se passa em impermeável é que a pronúncia do i nasalizado na primeira sílaba já se faz na boca pronta para a produção da sílaba -per- e por isso a nasalização é pronunciada bem na frente da boca, como quando produzimos a sílaba ma-. Por outro lado, quando pronunciamos intratável, pelo fato de a sílaba -tra- já ser pronunciada na região atrás dos dentes, também é esse o lugar em que a nasalização da primeira sílaba será produzida. Repare que, se a escrita fosse mesmo o retrato fiel da fala, de verdade, deveria haver uma escrita especial também para incalculável ou ingrato, algo como "inhcalculável" ou "inhgrato", porque o lugar em que produzimos esse i- quando falamos estas palavras está bem próximo do lugar em que vamos pronunciar -cal- ou -gra-.