Vários elementos coesivos que estão na gramática da língua portuguesa eram desconhecidos pelo aluno surdo que redigiu a frase (21). O primeiro aspecto que ele desconhecia é a estrutura da frase em português, isto é, as unidades gramaticais ou constituintes sintáticos dessa língua. O aluno construiu uma oração que deveria representar um evento (olhar), como mostra a figura, mas ele não utilizou nenhum verbo. O primeiro passo, então, para corrigir essa oração, seria substituir o sintagma nominal “os olhos” por um sintagma verbal, com uma expressão verbal indicadora de um evento.
(23)* Três lados esquerdo um homem olhava de relógio.
Colocar um verbo na oração já melhora muito a sua interpretação, porque a ação do verbo nos permite relacionar os dois referentes ligados ao evento de “olhar”. Essa relação é fortalecida pela flexão verbal –va, que indica o número-e-pessoa (3ª pessoa-singular, isto é, o “homem”) e tempo-e-aspecto (passado-imperfectivo) do verbo. Os referentes relacionados pelo verbo, portanto, são o “homem” e o “relógio”. Apesar disso, outros elementos precisam ser corrigidos. A preposição “de”, ligada a relógio, é inadequada. Quando usamos o verbo “olhar”, podemos colocar o complemento diretamente (“olhava o relógio”) ou então enfatizar a direção do olhar usando a preposição ligada à noção de direção (“olhava para o relógio”). Assim, a frase poderia ser mais uma vez reescrita, como em (24):
(24)* Três lados esquerdo um homem olhava (para) o relógio.