Agora vamos imaginar que o falante use a frase (9). Nesse caso, o falante não especifica qual caneta ele quer emprestado; qualquer caneta serve. Por exemplo, o seu colega pode ter uma caneta guardada em algum lugar onde nenhum dos dois consegue ver, e ele poderia pegar essa outra caneta. O colega, ao ouvir “uma caneta”, vai saber que o falante deseja ter emprestado qualquer caneta que ele possa ter levado para a aula naquele dia e não especificamente a caneta que ele traz na mão. Essa indeterminação é resultado do uso de artigos indefinidos (um, uma, uns, umas), que funcionam na língua como uma instrução de que nosso interlocutor não precisa procurar um referente específico, isto é, de que o referente em questão é indeterminado.
Agora vamos imaginar um evento de fala um pouco diferente, em que existem várias canetas no estojo do colega em cima da mesa. Nesse caso, se o falante usar “a caneta”, como na frase (8), com o artigo definido, é bem possível que o seu colega pergunte: “Qual caneta você quer?”. Isso porque o artigo definido funciona como uma instrução de que estou falando de um referente específico e que o meu interlocutor sabe qual é esse referente. Mas nesse caso é impossível saber qual é o referente, pois existem várias canetas no contexto de fala. Ouvindo a instrução “a caneta”, o interlocutor vai procurar no contexto da fala qual é esse referente, mas encontra vários deles e não sabe qual é. Ele, então, se vê na necessidade de perguntar ao colega algo como: “qual caneta você quer?”, ou “pode ser esta caneta?”.
Nesse segundo contexto, o uso de “uma caneta”, na frase (9), parece mais apropriado. Isso porque o artigo indefinido (um, uma, uns, umas) funciona como uma instrução de que o interlocutor deve procurar um referente não-específico em seu conhecimento de mundo. Como no contexto de fala há vários referentes, então qualquer um deverá servir ao pedido do falante. Caso o falante queira uma caneta específica, ele deve usar uma frase mais elaborada, não apenas com o artigo definido, mas com algum outro elemento modificador, como por exemplo: “Me empresta a caneta azul, por favor?”, de modo que a cor ajude o receptor a entender de qual caneta ele está falando.