A interpretação gramatical mais óbvia, contudo, não é essa. Qualquer motorista que visse essa placa entenderia que há uma divisão importante entre ?circulando? e ?devagar?, formando duas unidades gramaticais, ou constituintes sintáticos independentes. A primeira frase, ?Crianças circulando?, mostra que há crianças pela região e que elas podem atravessar a rua a qualquer momento. A segunda frase, ?Devagar?, é entendida como uma ordem ou comando, dizendo que é necessário reduzir a velocidade do veículo. Essa segunda interpretação poderia ser refraseada em 2 orações independentes, como: " Há crianças circulando na região! Dirija devagar "
A possibilidade de mais de uma leitura, no caso de “Crianças Circulando Devagar”, acontece por causa da falta de recursos de coesão empregados na construção do texto. Na verdade, o texto tem sim uma certa coesão (por exemplo, na ordem adequada das palavras). Mas um uso mais rico de recursos coesivos produziria frases mais claras, como “Crianças estão circulando de maneira devagar” (1ª interpretação), em que a expressão “de maneira” mostra que “devagar” é um advérbio sem dúvida alguma; ou “Há crianças circulando. Portanto, dirija devagar” (2ª interpretação), em que o verbo “dirija”, na forma imperativa, mostra sem dúvida o comando implícito na placa de trânsito original e o conectivo “portanto” faz uma relação de causa-conseqüência entre as duas frases.