: a normalidade imposta pela ideologia dominante. Silva (1997) ao comentar sobre o livro de Lennard J. Davis – Enforcing normalcy: desability, deafnen and the body (1995) afirma que historicamente a noção de norma e normalidade é recente. Vem dos séculos XVIII e XIX junto com o processo de industrialização e de transformação capitalista. Junto com noções de nacionalidade, raça, gênero, criminalidade, orientação sexual desenvolveu-se um conjunto de práticas e discursos centrados ao redor da noção de norma e de normalidade. O conceito de norma nasceu ligado ao conceito de “média”, junto com o surgimento da estatística.“O objetivo dessa Estatística é descrever as populações através do cálculo da média de algumas características vitais. A partir desse cálculo podia-se chegar ao “homem médio”, que se tornava, então, uma espécie de ideal. Uma conseqüência imediata desse raciocínio foi a curva de Gauss ou “curva do sino”, que descreve graficamente a distribuição de uma determinada situação pesquisada. Como se sabe, essa curva expressa graficamente o “fato” de que, dada uma característica determinada, a população em questão se concentra em grande parte no centro da curva, onde se localiza a média, enquanto uma pequena parte se distribui nos dois extremos: os que ficam abaixo da média ou norma e os que ficam acima dela. Temos aí, pois, estabelecido, através da estatística, o conceito de norma e de desvio”. (Silva, 1997, p.8) Essa noção de norma se soma com as noções de progresso, de perfeição humana e de desvio para criar uma visão dominante, hegemônica, daquilo que corpo humano deve ser. Na direção deste mesmo pensamento encontramos Andrade, Santos & Santos (2001) no Artigo “Segredo e silêncios na interação com surdos” afirmando que todos os indivíduos vivem em sociedade incluindo todas as espécies vivas habitantes do planeta. Com isso, todos esses grupos sociais (inclusive os animais), passam a direcionar suas práticas para uma simetria, coesão e estabilidade. Isso só é possível a partir da criação de um conjunto de critérios ou regras, que passam a determinar os padrões, parâmetros e condutas consideradas aceitáveis para a manutenção da estabilidade e da paz do grupo. Isto é, os mecanismos de controle social são criados para garantia da ordem e da conformidade da maioria dos membros de determinado grupo social. A noção de norma proposta acima gera uma contradição conflitante entre as personalidades dos indivíduos, sua maneira de ser, e o que é socialmente considerado normal para a comunidade. Conseqüentemente, os desviantes ou anormais tornam-se grupos estigmatizados e marginalizados, concentrando suas interações sociais dentro da comunidade minoritária, constituída por seus respectivos elementos, como os cegos e surdos, dentre outras modalidades de ‘deficiência’. “(...) com relação aos surdos, e também alguns outros grupos de deficientes, a violação da normalidade é detectável com bastante facilidade, e permanente, e torna-se mais grave, uma vez que trata-se de um desvio da “linguagem”, ou seja, a própria “norma física do ser humano” (Glat, 1995), já que esta foi, durante muito tempo, condição de humanização, isto significa dizer que a negação aos padrões de normalidade vão além do comportamento bizarro ou não-produtivo, e este fato, justamente com a especificidade lingüística no caso do surdo, só fortalece as interações colonialistas dos membros deste grupo”. (Integração, 2001, p.21)