A evolução biológica fez com que desenvolvêssemos a faculdade de imaginar nossas ações futuras e seu resultado sobre o meio externo. Graças a essa capacidade de simular nossas interações com o mundo através de modelos mentais, podemos antecipar o resultado de nossas ações e usar a experiência acumulada. A combinação dessas duas características, o dom da manipulação e a imaginação, talvez possam explicar o fato de que quase sempre pensamos com o auxílio de metáforas, de pequenos modelos concretos. Por exemplo, as noções de forma e matéria, que parecem tão gerais e abstratas, são empréstimos feitos por Aristóteles a artes muito antigas: cerâmica e escultura. A psicologia, por exemplo, usa muitos conceitos que são emprestados de outros campos: investimento afetivo (de investimentos financeiros) o recalque (dos encanadores). A enumeração dos empréstimos que o pensamento dito abstrato (na verdade metafórico) fez aos modelos técnicos mais cotidianos não teria fim. Os conceitos são nômades, passando de um território do saber a outro e são também, em geral de origem humilde, filhos das atividades práticas dos camponeses, artesãos, técnicos, trabalhadores manuais. Trabalhar, viver, conversar com outros seres, cruzar um pouco por sua história, isto significa, entre outras coisas, construir uma bagagem de referências e associações comuns, uma rede hipertextual (contexto compartilhado) capaz de diminuir os riscos de incompreensão. O fundamento da comunicação é a partilha de sentidos.