As teorias formalistas geralmente vão tratá-lo [o sujeito] como inexistente, ideal ou assujeitado. Em todos os casos, a individualidade do falante acaba sendo excluída dos estudos da linguagem. Uma das raras exceções é a postura teórica de M. Bakhtin, que consegue ver o sujeito como elemento participativo e atuante do processo comunicativo.
A sua postura marxista coloca o sujeito numa posição de constante interação com a sociedade e com a linguagem, a qual é vista por ele como um produto social. Como a linguagem é um produto social (e não institucional) e o sujeito é parte atuante do meio social; então ele acaba por também ser um fator de interação.
Bakhtin critica as correntes lingüísticas mais destacadas por estas não atribuírem um caráter mais social à linguagem. Como Marx não dedicou muito espaço para o estudo da linguagem em sua teoria (nem era esse o seu objetivo), Bakhtin buscou em Humbolt condições para encarar a linguagem como atividade social, reconsiderando todo o problema da linguagem dentro de uma orientação marxista geral.
É muito importante a ênfase que ele procurou dar à linguagem como atividade social, pois é a partir daí que surge a argumentação de que o processo de significação é resultado de uma ação social, o que implica em dizer que os signos são mutáveis, já que a sua existência estaria relacionada com um fazer social que não é constante ou imutável, mas sim um processo contínuo do qual toda a sociedade participa.
Cada sujeito, como parte da sociedade a que pertence, teria então o seu papel enquanto agente modificador na atividade social. Mesmo assumindo que no discurso de um sujeito possam estar presentes outros discursos anteriores, a sua forma de analisar o processo de apropriação do discurso alheio pressupõe um sujeito ativo e atuante, capaz de fazer escolhas e estabelecer estratégias. Aí reside a diferença básica entre a análise do discurso francesa e o pensamento de Bakhtin. Enquanto a primeira admite apenas um sujeito assujeitado, o segundo propõe um sujeito ativo, capaz de utilizar a linguagem para a formação de sua consciência individual e também de usar a sua individualidade para interferir no processo social da linguagem, através da sua atividade interacional constante junto à sociedade.
Em resumo, a concepção bakhtiniana atribui ao sujeito responsabilidade pelo uso que este faz da linguagem. O sujeito não é somente um divulgador de um discurso preexistente, mas um agente dentro do processo discursivo, capaz de interferir, aprimorar ou até modificar o discurso social. Esta distinção é possível pelo fato de Bakhtin, ao contrário da análise do discurso francesa, conseguir ver o discurso na sua dimensão social. Dimensão esta que contém também as dimensões institucionais e as ultrapassa, sendo parte expressiva do conjunto de relações da atividade histórico-social.