A título de ilustração, consideremos um exemplo desse conhecimento lingüístico, retirado de Raposo (1992) . Em português, o morfema se tem duas funções: de pronome anafórico reflexivo ou recíproco (tomando sua referência de outro nome presente na oração) e de pronome impessoal, significando algo como “alguém”. Considere assentenças abaixo que possuem a forma se (dados retirados de Raposo 1992: 41): O conhecimento que o falante de português tem é que o se pode ter um significado impessoal somente quando este pronome está na posição de sujeito da sentença, mas não quando está na posição de objeto. Esta propriedade da gramática interiorizada dos falantes de português não se desenvolve com base nos dados primários que as crianças ouvem quando estão adquirindo a língua. Mesmo que as crianças ouçam sentenças com o pronome se impessoal, as sentenças ouvidas não vêm com instruções de interpretação. Mais importante ainda é ressaltar que nunca foi avisado às crianças que a interpretação impessoal não é possível para a posição de objeto. Se tal conhecimento não é explicitamente dado, devemos concluir que a criança já possui esse conhecimento, que é geneticamente determinado. Um outro exemplo sobre o conhecimento que a criança traz para a tarefa de aquisição de linguagem pode ser ilustrado ainda com o se. Quando temos o se anafórico, este pronome exige a presença na mesma oração de um nome do qual possa retirar seu valor referencial (o que chamamos de antecedente). Em (12) abaixo, se tem como antecedente o nome“as atrizes” (dados a seguir retirados de Raposo 1992: 44):