A língua oral (e sinalizada) também tem gêneros. Já mencionei um: a piada. Uma piada pode ser escrita, mas geralmente quando é lida não tem graça nenhuma. "Piada" é um gênero próprio da língua face-a-face. Uma piada é parecida com uma narrativa, mas é diferente: é uma pequena narrativa que tem o objetivo de provocar o riso, e para isso requer uma forma específica, um jeito próprio de ser contada, e – principalmente – o momento e a situação perfeitos para ser maximamente engraçada. Outros gêneros orais são: preces, sermões, canto de torcida, palestras, discursos de campanha. Mas o mais comum de todos os gêneros da língua face-a-face é a conversação. Se você não acredita que conversação seja um gênero, faça uma experiência. Quando você estiver conversando com alguém e estiver querendo terminar a conversa, faça assim: simplesmente pare de conversar, vire as costas, e vá embora, sem dizer "tchau". Não diga nada, nem que tem que fazer outra coisa ou ir a outro lugar. O assunto da conversa já acabou, não foi? Então qual é o problema? Por que você não pode parar de conversar e ir embora, sem dar satisfação? Por que tem que ficar fazendo rodeios para terminar? É porque a conversação é um gênero que tem começo, meio e fim. Ela tem regras, e se você violar as regras, vai assustar seu interlocutor, que certamente vai achar você muito rude ou, no mínimo, esquisito! Ou, se ainda não acreditar que a conversação é um gênero, pense em outro gênero da língua face-a-face, a entrevista. Uma entrevista é parecida com a conversação, mas é diferente. Numa entrevista, uma pessoa faz perguntas e a outra responde. Não é assim numa conversação. Às vezes, numa conversa, seu interlocutor pode estar muito curioso para saber alguma coisa e ficar insistindo, fazendo mil perguntas. Aí, você pergunta: "O que é isso, uma entrevista?!" Você achou que era uma conversação, mas seu interlocutor estava agindo diferentemente, como se fosse uma entrevista. Ele estava violando as regras de uma conversação.