Começamos com casos de contato precário, em que as pessoas precisam se comunicar apesar das diferenças lingüísticas. Isso mostra dois tipos de recurso comunicativo que as pessoas têm. O primeiro recurso é a capacidade de simplificar a linguagem para estabelecer a comunicação. O outro recurso é a capacidade (que as crianças têm) de elaborar uma língua completa e gramatical a partir da fala incompleta e agramatical das pessoas ao seu redor. A palavra "emergência" tem dois sentidos, e os dois sentidos são apropriados para o assunto que vamos estudar. Uma "emergência" é um estado de crise. Quando temos uma emergência, chamamos o resgate. Mas "emergir" também quer dizer "aparecer". Então, uma língua "emergencial" é uma língua que é usada em momentos de crise lingüística, mas também é uma língua que "emerge", isto é, uma língua que aparece em certas circunstâncias. Nós vamos ver quais são essas circunstâncias, e como são essas "línguas emergenciais". Sabemos que as línguas naturais são bem complexas. A maioria dos falantes de uma língua não conhece toda a língua. No português, por exemplo, ninguém conhece todas as palavras da língua. E nenhum surdo brasileiro conhece todos os sinais da libras. Sempre, em qualquer comunidade lingüística, algumas pessoas sabem melhor que outras como usar a gramática e as palavras exatas para falar de uma maneira mais bonita ou mais precisa ou mais persuasiva. Sempre podemos aprender mais sobre a nossa própria língua. Vivemos comentando sobre as palavras e os sinais, o que eles significam, exatamente, e como podem ser usados. Ninguém sozinho é dono da língua. Mas vamos pensar em algumas situações em que não adianta saber tudo o que sabemos da nossa língua. Às vezes, para nos comunicarmos com alguém, não adianta saber muitas palavras ou entender bem como usar a gramática da língua. São casos em que estamos tentando nos comunicar com alguém que não conhece nossa língua.