Mesmo sem reconhecer o item lexical fedruxar em (17) e (18), como uma palavra do português, conseguimos perceber algumas propriedades deste vocábulo tendo em vista os critérios (i), (ii) e (iii) já por nós listados. Em primeiro lugar, observamos na sentença em (17) que o vocábulo fedruxar apresenta uma morfologia particular que “carrega” tempo/modo e pessoa/número nas flexões -vá e -mos, respectivamente. Percebemos ainda que tal vocábulo está distribucionalmente alocado numa determinada posição da estrutura, de modo que preferencialmente tal posição parece ser aquela entre um agente “aquele que faz a ação de fedruxar” e um objeto “a coisa fedruxada”, como em (17). A sentença (18) em que o vocábulo fedruxar aparece numa posição final da estrutura não nos parece ser uma sentença boa em português. Em terceiro lugar, percebemos que o item fedruxar está semanticamente relacionado a outros constituintes [Maria e eu e o cabelo], de modo que atribuímos ao primeiro constituinte [Maria e eu] um papel de agente e ao constituinte [o cabelo] um papel de tema. Essa discussão será retomada na Temática III.
(17) A Maria e eu fedruxavámos o cabelo (18)? A Maria e eu o cabelo fedruxávamos (19) Fedruxar [A Maria; o cabelo]
? O ponto de interrogação “?” indica que a estrutura parece não ser uma sentença bem formada nessa língua; no caso apresentado em (18), por questões relacionadas com a ordem dos constituintes.