Se me não é palavra, pode ser que seja um “pedaço de palavra”, como anti- ou -mente. Até aqui, a gente só tem dois conceitos: palavra emorfema ; e se palavra é a menor unidade de som e sentido autônoma na língua, então um pedaço de palavra não é autônomo na língua, né? (Nós aqui estamos fazendo de conta que uma unidade da língua ou é palavra ou é morfema, desconsiderando o caso das palavras que são formadas por um único morfema, como luz, para os quais nós vamos voltar mais pra frente...). Será que me é um morfema? Vamos ver: nós vimos que morfemas como anti- ou -mente têm uma característica especial, que é a de sempre aparecer em uma posição fixa dentro da palavra, ou no começo ou no final, mas não indiferentemente no começo ou no final da palavra, certo? E o que acontece com me?
(13) a. A Maria me viu ontem b. A Maria viu-me ontem
(13) nos mostra que me pode aparecer em duas posições diferentes com respeito ao verbo: em (13a) ele aparece antes do verbo, em (13b) aparece depois do verbo – essa frase (13b) soa meio estranha para nós brasileiros, mas ela é perfeitamente natural para os portugueses! Eles falam assim o tempo todo!