Ao discutir a questão da variação e a quebra da dicotomia certo-errado, em defesa de diferenças em relação ao uso da língua, utilizo a comparação da língua como vestimenta, citada em Bagno (1999). As roupas, como sabemos, são variadas, indo da mais formal (vestidos longos, terno e gravata) à mais informal (biquíni, pijamas). A idéia dos que fazem essa comparação é que não existem, em geral, formas lingüísticas erradas, existem formas lingüísticas inadequadas. A língua assim pode ser comparada com as roupas: assim como ninguém vai à praia de terno e gravata, também ninguém vai a um casamento de biquíni ou de pijama (ao menos, convencionalmente!). De igual modo, ninguém diz ?me dá esse troço aí? num jantar formal nem ?faça-me o obséquio de passar-me o sal? numa situação de convívio familiar.
A variação envolve a discussão de questões de uso e padrão lingüístico e, nesse sentido, encontramos opiniões de gramáticos e de sociolingüistas, cada um com seu viés, que afirmam que o padrão lingüístico é usado pelas pessoas representativas de uma sociedade. Na nossa própria língua podemos usar dois ou mais dialetos. Quando estamos com os amigos nos expressamos de uma maneira; quando vamos a uma entrevista para um emprego, a tendência é sermos mais formais. Esses dialetos de situação denominam-se estilos. Conforme a situação, as pessoas utilizam um estilo informal (interlocutor familiar) ou um estilo formal (interlocutor cerimonioso). Nas línguas de sinais, observamos que o estilo varia conforme o interlocutor: quando um surdo se comunica com um ouvinte, em geral, tende a fazer sinais de forma mais lenta, utilizando alguma vocalização; quando se comunica com outro surdo, tende a sinalizar de forma natural, sem vocalização.