Vamos esclarecer essa idéia discutindo uma diferença entre o português e o inglês, apoiando-nos em um esquema sugerido pelo próprio Saussure (1969:131):
Na primeira linha do esquema, temos a massa amorfa do pensamento, e, na segunda, temos a massa amorfa fônica. O português faz um recorte nas duas massas amorfas e cria o signo porco, cujo significado é nosso conceito do animal [PORCO] e da carne que muitos de nós gostamos de comer, e cujo significante é /porku/, ou seja, a seqüência de fonemas do português que é usada para produzirmos o signo porco. No sistema do português, esse signo se opõe a outros signos, como vaca, carneiro, galinha, etc. Vejamos, agora, o que acontece no inglês:
Na mesma massa amorfa de pensamento, e na mesma massa amorfa fônica, o inglês faz dois recortes: um deles cria o signo pig, que é o animal que nós chamamos de porco; o outro cria o signo pork, que é a carne do animal porco, que muitos de nós gostamos de comer. Cada um desses signos tem seu próprio valor no sistema do inglês, e se definem pela oposição que podemos fazer entre eles. Assim, enquanto em português o signo ?porco? se opõe a outros animais e suas carnes, em inglês, o signo pig se opõe a outros animais, mas também ao signo pork, que é a carne do porco.